Hugo Chávez venceu as eleições regionais em vinte dos vinte e dois estados da Venezuela e em quase 90% das prefeituras de seu país. Luís Inácio Lula da Silva jacta-se do crescimento do PT em relação às últimas eleições municipais, mas perdeu o controle de duas importantes capitais, São Paulo e Porto Alegre. Emblemáticas para […]
Hugo Chávez venceu as eleições regionais em vinte dos vinte e dois estados da Venezuela e em quase 90% das prefeituras de seu país.
Luís Inácio Lula da Silva jacta-se do crescimento do PT em relação às últimas eleições municipais, mas perdeu o controle de duas importantes capitais, São Paulo e Porto Alegre. Emblemáticas para o seu partido.
Tabaré Vazquez venceu as eleições presidenciais no Uruguai com tranqüilidade já no primeiro turno e obteve maioria nas duas casas legislativas.
Chávez levou para dentro do governo os compromissos assumidos em campanha. Eleito e empossado disse aos venezuelanos que não haveria como mudar se não fossem mudadas a Constituição e a estrutura de poder na Venezuela.
Todas as mudanças foram feitas com consulta popular e em todas as oportunidades o presidente bolivariano venceu por larga margem de votos. Estabelecidas as condições básicas foi novamente eleito presidente.
Derrubado numa sexta-feira, em abril de 2002, por um golpe montado em Washington com as elites venezuelanas e cumplicidade vergonhosa dos meios de comunicação, retornou ao palácio Miraflores nos braços do povo e em meio à reação popular dois dias depois.
Pressionado e ameaçado a todos os instantes por tentativas de golpes, ação de grupos para militares colombianos, Casa Branca, o de sempre, submeteu-se a um referendo, instituto criado pela Constituinte que convocou e venceu com 58% dos votos. De tal maneira contundente que nem Jimmy Carter conseguiu encontrar espaço para as denúncias de fraudes, partidas da oposição. Declarou com todas as letras que os venezuelanos manifestaram livremente a sua vontade.
Em curso na Venezuela um processo revolucionário democrático e popular.
Lula assumiu o governo do Brasil debaixo da expectativa de mudanças no modelo político, econômico e social vigente. Foi eleito para desmontar o estado neoliberal montado por Fernando Henrique Cardoso.
Chávez prendeu corruptos, inclusive um ex-presidente (Carlo André Perez) e Lula criou a lei do foro privilegiado que evitou a prisão de FHC e garantiu foro especial a todos os integrantes de governos e ex-governos.
Chávez fez votar a lei dos hidrocarburetos, que assegurou a soberania do seu país sobre o petróleo (é o quinto maior produtor do mundo). Lula fez correr a licitação de áreas de pesquisa, nos termos determinados pelo FMI.
Chávez deu início ao processo de reforma agrária de forma acelerada. Lula abriu as portas do País à multinacional Monsanto e os transgênicos viraram o grande negócio do latifúndio, colocando em risco a soberania nacional (monopólio das sementes), atrasando o processo de reforma agrária.
Lula taxou inativos e pensionistas, tem em pauta a reforma universitária (privatização da universidade pública segundo o modelo do Banco Mundial), quer rever direitos de trabalhadores, assegura e garante com sua política econômica os privilégios do sistema financeiro (os bancos continuam a lucrar de forma imoral), quer votar a autonomia do Banco Central, todo o receituário clássico do neoliberalismo.
Por mais que insista em dados, por mais que o temperamental senador Aluisio Mercadante tente explicar o inexplicável, ou o comando paulista do PT busque meios para justificar a derrota de Marta (Pont pagou o preço da lealdade), o partido de Lula perdeu as eleições, ou melhor, se vê como aquele sujeito que amarrou um pé de tênis no outro e não tem como caminhar.
O grande líder ocidental que não é de esquerda, disse ao mundo que «o cidadão comum talvez não tenha a medida da importância do voto dele em mim. Eu vim para mudar a história da humanidade».
A vitória de Chávez é conseqüência de um processo político corajoso, determinado, que trabalhou os compromissos assumidos em praças públicas. Esmagadora por isso.
Os resultados das eleições no Brasil e na Venezuela são dois momentos que o presidente eleito do Uruguai, outrora chamado de «Suíça americana», hoje um país empobrecido, deve examinar e estudar com atenção.
Que essa opção, mudar, signifique riscos, pouco importa. Chávez mostrou que é possível superá-los, vencê-los, mesmo quando o adversário é um terrorista louco como George Bush e tudo o que ele significa. Nos Estados Unidos e fora dos Estados Unidos.
Lula fez a opção do jogo de cena do clube de amigos e inimigos cordiais, o chamado institucional. Chávez transformou o popular no institucional, varrendo os políticos corruptos e comprometidos com as elites, todas sem exceção, apátridas.
São só negócios como dizem os mafiosos. Braço delas, elites.
Lula foi conversar com gente como Sarney, ACM, anistiou previamente FHC, transformou o PT numa massa inerte e burocrática, ávida de empregos públicos e mordomias, paga o preço dessa opção.
Chávez foi ao movimento popular. Organizou e enfrentou o poder econômico e político das oligarquias.
Está vencendo.
A questão para o presidente eleito do Uruguai é essa: ou faz como Lúcio Gutierrez, no Equador. Ou Lula no Brasil. Esquece os compromissos do lado de fora do Palácio de Governo.
Ou assume como Chávez.
Não se trata apenas de vencer ou perder eleições.
O eixo é outro: mudanças e um outro mundo possível, Chávez está provando que é possível, ou vai acabar como o brasileiro chamando banqueiros de «meus amigos» e levando Abílio Diniz para o programa do PT. Ou pior, ganhando eleições com o PTB de Collor.
Foram três momentos históricos e uma expectativa: Tabaré Vazques.
Ou vira um Lula da vida, ou assume e governa com a grandeza histórica de um Chávez.