Era o lema do governo José Sarney, logo após a edição do Plano Cruzado. Sarney chegou a afirmar a Roberto Campos, seu amigo e à época senador, que «o governo está distribuindo renda». Desnecessário dizer que até Roberto Campos riu. O Cruzado foi uma das grandes farsas deste país recentemente. O presidente Luís Inácio Lula […]
Era o lema do governo José Sarney, logo após a edição do Plano Cruzado. Sarney chegou a afirmar a Roberto Campos, seu amigo e à época senador, que «o governo está distribuindo renda». Desnecessário dizer que até Roberto Campos riu. O Cruzado foi uma das grandes farsas deste país recentemente.
O presidente Luís Inácio Lula da Silva tem dito, desde o primeiro dia de seu governo, que políticas voltadas para o social seriam e serão os pontos fortes de seu governo. Dá a receita: desenvolvimento.
A mistura é feita com ingredientes determinados pelo FMI e muitas vezes o próprio governo exagera em alguns deles, como no caso do superávit primário.
A última pérola do presidente da República foi afirmar que os deputados do Norte e Nordeste não têm sido capazes de produzir políticas para as suas regiões, daí a reclamação que Sul e Sudeste são privilegiados. Lula, sem querer, frisou uma deformação constitucional: a que permite que estados com menor número de habitantes e eleitores tenham, proporcionalmente, representação maior na Câmara dos Deputados.
Resquício da ditadura militar que tinha mania de limitar o número de parlamentares para não perder o controle.
O Ministério do Trabalho autuou um fazendeiro no Estado do Pará por se valer de trabalho escravo em sua carvoaria. Uma empresa siderúrgica era a principal compradora e uma semana antes havia assinado um pacto das várias empresas do setor, para não comprar nada de quem se utilizasse de trabalho escravo.
O Nordeste não morre à míngua de recursos por conta dos parlamentares só. Boa parte deles tem negócios em São Paulo, inclusive o líder tucano no Senado, Tasso Jereissati, por três vezes governador do Ceará. Albano Franco, homem da coca cola naquela região do país, foi governador do Sergipe, presidente da Confederação Nacional da Indústria e também tem negócios em São Paulo. E a família Collor. E um monte deles.
A política no Nordeste é controlada por usineiros, latifundiários, grandes empresários, os coronéis como ACM e Sarney. Um atento observador divulgou pela rede mundial de computadores a relação de locais públicos no Estado do Maranhão com nomes de figuras da família Sarney. Tem de tudo, desde maternidade a capela de velório. Quem for à Bahia vai encontrar o mesmo em relação à família de Antônio Carlos Magalhães.
São todos aliados de Lula. Esta semana o presidente recebeu ACM para refazer alguns furos na rede de apoio. O cacique baiano está descontente com atitudes do governo e principalmente, com a impossibilidade de reeleição do confrade José Sarney para a presidência do Congresso.
O ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, deve tratar do assunto depois das eleições e voltar com a emenda que permite esse tipo de reeleição. Tanto a de José Sarney, como a de João Paulo, presidente da Câmara. Tudo indica que Renan Calheiros, do antigo esquema de Collor, ex-ministro da Justiça de FHC e um dos principais apoiadores de Lula, vai ficar a ver navios.
A preocupação do presidente da República com o social ficou manifesta no fracasso dos programas Fome Zero e Primeiro Emprego e agora, vem de forma drástica em relação a mutuários do sistema nacional de habitação, controlado pela Caixa Econômica Federal.
Os contratos de equivalência salarial não estão, nunca foram, respeitados pela Caixa (é um estamento dentro do Executivo, nem o presidente consegue mandar lá). Para fazer valer o contratado os mutuários têm que se valer da Justiça.
Vai daí que o governo decidiu que quem quiser recorrer tem que depositar em Juízo o valor estipulado pela Caixa como correto. O que vale dizer que milhares de compradores de casa própria perderão seus imóveis, mesmo que tenham pago dois terços do valor total, por exemplo.
O governo Lula consegue prodígios. Na perversidade da política econômica se comporta como FHC. No populismo pai dos pobres, mãe dos ricos (é só dar uma olhada nos lucros dos bancos), comporta-se como José Sarney.
É preciso abrir o olho para não chegar ao extremo de uma fase padrão Collor de Mello, do contrário a vaca vai para o brejo de vez.
Uma espécie de Zelig que já chama Bush de amigo e aliado importante.
Adotou até o esquema tucano de divulgar resultados que considera positivos, através do economês, como se os trabalhadores comessem palavras desse doentio idioma, o da verdade absoluta, mas na teoria.
Ah! Como é ano de eleição, no estilo Sarney, passou a abrir seus discursos com «companheiros e companheiras».
Vai longe.