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Uma ou duas histórias sobre as eleições municipais

Fuentes: Rebelión

Tudo indica que o alto comando do governo Lula começa a trabalhar com a possibilidade que Marta Favre seja derrotada por José Maluf Serra nas eleições para a Prefeitura de São Paulo, no próximo dia três de outubro. Perder as eleições na capital do Estado mais rico do País não significa, necessariamente, perder as chances […]

Tudo indica que o alto comando do governo Lula começa a trabalhar com a possibilidade que Marta Favre seja derrotada por José Maluf Serra nas eleições para a Prefeitura de São Paulo, no próximo dia três de outubro.

Perder as eleições na capital do Estado mais rico do País não significa, necessariamente, perder as chances de reeleição de Lula. Mas São Paulo, para o PT, que é um partido paulista, tem um aspecto simbólico que nenhuma outra capital, talvez Porto Alegre e Belo Horizonte noutra dimensão, tem.

E levando em conta que o PSDB, partido de José Maluf Serra, tem um complicador, ou muitos complicadores. FHC sonha voltar ao Planalto. O governador Geraldo Alckimin quer ser o candidato do partido em 2006 contra Lula. José Maluf Serra já deixou claro para o alto comando de seu partido que é candidato ao governo estadual. Ou seja: ganhando, vai ser prefeito por pouco mais de um ano.

Por fora, em Minas e no Ceará, correm o governador Aécio Neves, neto de Tancredo e o senador Tasso Jereissati. Os dois aspiram disputar as eleições presidenciais. Jereissati agora, em 2006, Aécio, em 2010.

Lula tem dado sinais que sua paciência se esgotou em relação a FHC e que vai bater duro. É a opinião do ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu. Se o fizer, os fatos são suficientes para deixar o ex-presidente em maus lençóis em todos os sentidos. Foi o governo mais corrupto da história, além de ter sido uma espécie de governadoria geral dos interesses norte-americanos e do que gravita ao redor desses interesses.

Mas existem mais coisas. O ministro José Dirceu anda impaciente e nervoso com as trapalhadas do presidente nacional do partido, José Genoíno. Dirceu acha que Genoíno é um dos principais responsáveis pela má performance da candidata Marta Favre. Acha que Genoíno extrapolou em muitas alianças pelo Brasil afora e não quer nem saber do ex-deputado na presidência do PT a partir do próximo ano, quando ocorrerá o chamado PED (Processo de Eleições Diretas), que renova as direções municipais, estaduais e nacional do partido.

É por aí que o ministro pode de fato pedir o boné e voltar à Câmara. Numa simplificação bem próxima da realidade, levando em conta que simplificações costumam ser perigosas, a visão é mais ou menos a seguinte: Palocci é homem da comunidade financeira. Dirceu é do partido. E Genoíno não é de nada e nem de ninguém. Virou presidente do PT, no lugar de José Dirceu, como prêmio de consolação por ter ido ao sacrifício de disputar o governo do Estado de São Paulo em 2002, dentro do projeto paz e amor de Lula.

Vamos tomar como exemplo dos destrambelhamentos do comando petista, José Genoíno, o que acontece na cidade de Juiz de Fora, uma das cinco maiores de Minas e uma das 50 maiores do Brasil. Cerca de 500 mil habitantes. É a terra de Itamar Franco.

Lula venceu ali todas as vezes que disputou a presidência, inclusive em 1989, quando Itamar era o vice de Collor. Em 2002, contrariando a esmagadora maioria das cidades mineiras, principalmente as maiores, o candidato ao governo do Estado, Nilmário Miranda, derrotou Aécio em Juiz de Fora.

A cidade é governada por Tarcísio Delgado, do PMDB e interlocutor qualificado de muitos ministros do governo Lula. Está no seu terceiro mandato como prefeito, realiza um dos melhores governos da história da cidade, tem 60% de aprovação popular e o caminho natural do PMDB da cidade seria uma aliança com o PT. Imbatível, pelo menos em tese.

O PT de Juiz de Fora, no último PED, derrotou o grupo do atual Secretário Nacional de Combate ao Racismo, Martvs das Chagas e consolidou posições de forças mais à esquerda. Martvs, segundo uma importante liderança do movimento negro local, é o chamado jabuticaba: negro por fora, branco por dentro.

Descontados erros de parte a parte no processo de condução de uma eventual aliança entre PT e PMDB na cidade, o grupo do carimbo, burocratas, incrustado no poder, sempre em sinecuras, trabalhou por baixo dos panos, com apoio de José Genoíno, do ministro Guido Manteca, uma candidatura burocrata, do PPS.

Foi imposta de cima para baixo. Num dos raros comícios da coligação PT/PPS haviam cerca de 12 pessoas, seis das quais pagas, as que seguravam bandeiras e gritavam o nome do candidato, a velha e tradicional claque.

Itamar Franco, no seu estilo de coronel temperamental, que não admite contestação, ridículo em seu final de carreira, buscou um burocrata tucano, lider da bancada do PSDB na Câmara Federal, para candidato sem, no entanto, aparecer na campanha. O candidato apoiado pelo PMDB, do PDT, salvou o ex-governador de ter as contas vetadas pela Assembléia Legislativa mineira. Sumiu para a Itália, onde brinca de embaixador.

O PTB, partido aliado de Lula, lançou candidato o ex-prefeito Alberto Bejani, objeto de investigações e processos vários por corrupção, representante do vice-governador Clésio Andrade, também sob a mira dos homens da lei, acusado de lavagem de dinheiro. Um desvairado o candidato do partido de Roberto Jéferson, ex-tropa de choque de Collor, atual tropa de choque de Lula.

 Todo o processo que culminou na candidatura de João Vítor Garcia, o do PPS, foi iniciado por setores do PT de Juiz de Fora, registrando-se que, até a véspera do prazo de desincompatibilização o candidato estava no governo Tarcísio Delgado. Foi imposto com aval da direção nacional do partido, José Genoíno, do ministro Guido Manteca, de meia dúzia  de burocratas e, na sexta-feira, dia 23, imaginam lotar um dos bairros mais populosos da cidade com a presença do ministro Nilmário Miranda. Incrível que o ministro tenha aceito jogar fora o patrimônio de respeito que conquistou na cidade.

 A militância e os eleitores do PT de Juiz de Fora não votam, em sua esmagadora maioria em João Vítor. Muito mais até pelo seu companheiro de chapa, um dos grandes equívocos do PT.

Um mês antes das convenções, o candidato da coligação PT/PPS esteve em reunião no Rio, presente o deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS, com o comando tucano, tentando viabilizar uma aliança, pois, até então, era incerta a candidatura Custódio Matos, a do PSDB.

Como se percebe, um projeto pessoal, no qual o PT é o clássico boi de piranha.

No meio do caminho uma declaração de José Genoíno, que não sabe que existe vida inteligente fora de São Paulo, que a obrigação dos petistas seria votar em João Vítor, o PT, segundo ele era João Vítor, ou seja, ao invés de 13, 23.

A propaganda gratuita do candidato mostra, terrível, caras constrangidas de parlamentares locais apoiando, por força do mandato, uns nem aparecem, medo de não conseguir legenda para as próximas eleições. Um candidato que implodiu o partido de Lula, na cidade onde Lula sempre venceu, inclusive a Itamar Franco, num espetáculo deprimente.

João Vítor e o vice, Martvs das Chagas são projetos pessoais. Tentam viabilizar futuras candidaturas a deputado. Saem dos escaninhos da burocracia, montados no samba maluco de José Genoíno para uma derrota humilhante, levando em conta as possibilidades iniciais do partido.

O segundo turno das eleições, a cidade tem cerca de 330 mil eleitores, pode ser disputado entre Alberto Bejani e Custódio Matos, PTB e PSDB, uma alternativa onde não existe nem pior, nem menos ruim. São lastimáveis. Significam um retrocesso sem tamanho numa cidade importante como Juiz de Fora. Um projeto de corrupção, Bejani, outro neoliberal, Custódio Matos.

 Termina assim a história: votar no candidato do PT/PPS, ou vice versa, significa votar ou no tucano, ou no petebista, já que o único candidato capaz de derrotá-los num segundo turno é o do PDT, deputado Sebastião Helvécio, apoiado pelo atual prefeito, Tarcísio Delgado.

 Tudo indica que o candidato do partido de Brizola esteja no segundo turno. A única chance da cidade evitar o dilema criado por José Genoíno dum lado, Itamar Franco do outro. Fora isso o PT ganha em cidades próximas, menores, Juiz de Fora é pólo, e perde no miolo.

 Recuperar o bom senso de Genoíno não tem como. O presidente nacional do PT é irrecuperável. Quando desandou pelo lado da bobagem foi de vez. Vai ficar lá e terá que lutar muito para voltar à Câmara.

 Esse pequeno enredo, complicado e inexplicável, aconteceu e está em curso em muitas cidades brasileiras. Os artifícios de alianças que, longe de passarem por um projeto político, passam por apetites pessoais e interesses de grupos, no PT.

 Por aí, talvez, seja possível encontrar a explicação para as dificuldades de Marta Favre.

Genoíno e seus burocratas, todos montados em cargos, com direito a salas com secretárias, telefones, clips, carimbos, pastinhas em estantes e arquivos bem arrumadinhos, bons salários, deveriam ter como lição de casa, a moda dos antigos castigos escolares, carimbar todos os documentos de governo, em todos os ministérios, até o final do mandato de Lula. É o que gostam de fazer, é o que sabem fazer. Fora isso só essas trapalhadas mas que…

São trapalhadas recheadas de projetos pessoais nada compatíveis com o partido.

E pior: trabalham contra Lula em boa parte das principais cidades brasileiras. Nem podem atribuir a liderança dos candidatos petistas em Porto Alegre e Belo Horizonte a eles. Raul Pont, na capital gaúcha, já foi prefeito, a cidade está no quarto mandato do PT, é vitrine do modo petista de governar e mesmo assim deve disputar um segundo turno acirrado. Fernando Pimentel, em BH, cumpre o terceiro mandato petista e enfrenta um candidato ligado ao governador do Estado, Aécio Neves. Que só existe politicamente por ser neto de Tancredo. Não fora isso nem síndico do prédio em que mora. Aliás, mora fora do Estado. Desastre absoluto. Puro marketing, beirando o visite Minas antes que acabe.

É ouvindo essa banda desafinada, sem harmonia nenhuma, perdida e tonta num dobrado maluco que o ministro José Dirceu acha que se não mudarem os rumos do governo é melhor pedir o boné e tratar de disputar o processo eleitoral interno do PT, ano que vem, tentando, minimamente, salvar o partido.

Genoíno está próximo de fechar o caixão. Quando esgrime pesquisas com prováveis vitórias, não diz que são os chamados «burgos podres», frase de Tancredo, onde mandam os coronéis, agora aliados de Lula.