Então, de lá de algum porto localizado na China, parte um imenso transatlântico. Sua carga: containeres carregados de relógios, CDs, pilhas, aparelhos eletrônicos, chinelos e todo tipo de quinquilharias. Esse navio atravessa o planeta inteiro carregado com mercadorias em situação ilegal ou piratas. Um mês depois, logo de haver atravessado o Pacífico inteiro, o Canal […]
Então, de lá de algum porto localizado na China, parte um imenso transatlântico. Sua carga: containeres carregados de relógios, CDs, pilhas, aparelhos eletrônicos, chinelos e todo tipo de quinquilharias. Esse navio atravessa o planeta inteiro carregado com mercadorias em situação ilegal ou piratas. Um mês depois, logo de haver atravessado o Pacífico inteiro, o Canal do Panamá e descido todo o Atlântico, o navio aporta em algum cais do porto de Paranaguá, no Estado do Paraná, Brasil. Descarregados os containeres, eles são novamente embarcados, desta vez em caminhões. Os veículos se dirigem ao Paraguai, a cerca de 700 quilômetros dali.
No Paraguai, os containeres são abertos, descarregados, e a mercadoria que contêm são estocadas. De lá, os relógios, chinelos, CDs ou perfumes são novamente enviados ao Brasil de forma ilegal.
Da cidade de Foz do Iguaçu, na fronteira do Brasil com aquele país, até São Paulo há uma distância de exatos 980 quilômetros. Sem notas fiscais ou documentos que provem sua importação legal, a mercadoria chega a São Paulo após cruzar o controle alfandegário na fronteira, dezenas de postos da Polícia Rodoviária Federal e postos da Receita Federal, além de incontáveis pedágios. Desconsideremos os postos de fiscalização na divisa dos Estados de São Paulo e Paraná, os quais deveriam verificar as notas fiscais para efeito de controle do ICMS, um imposto estadual.
Já na capital paulista, a mercadoria que atravessou o mundo é enviada novamente a depósitos clandestinos.
Você já percebeu ou contou quantas oportunidades de «enriquecimentos» até agora? Pois é… Quantos já obtiveram lucros, desde lá do porto chinês até agora? Seguimos a viagem junto aos relógios Made in China…
Aí então um brasileiro, geralmente nordestino e negro, preocupado com o ronco produzido pelo vácuo do estômago de seu filho de três anos, resolve comprar dez pacotes de pilhas, ou vinte CDs ou ainda uma meia dúzia de relógios estranhos. Esse brasileiro, sem emprego, escola, teto, comida, saúde ou respeito por parte de uma sociedade sórdida ou de um governo eleito para representar outros interesses, compra a mercadoria e vai às ruas defender um sanduíche por dia. Ou um litro de leite.
Aí então, finalmente, a prefeitura descobre que esse brasileiro que alimenta sua família vendendo meia dúzia de CDs por dia, é um perigoso delinqüente, contrabandista, criminoso, quadrilheiro que devasta milhares de empregos no Brasil. Repressão nele!
Um contrabandista maldito que não paga impostos e prejudica a decente política econômica brasileira desenvolvida em Washington, a qual nos obriga enviar ao exterior cerca de 170 bilhões de reais por ano a titulo de pagamento de juros de uma dívida que fizeram sem nos consultar.
O brasileiro que se dane. O Brasil não é nosso. Só a miséria nos é permitida.
Mas se essa história é de matar de raiva, é também um mecanismo que desperta consciências. Depende só de nós.