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Na miríade de agremiações existentes, ainda encontramos as velhas siglas

Vitórias e derrotas eleitorais

Fuentes: JBonline

Concluído o primeiro e caminhando para o segundo turno, é possível fazer ainda algumas considerações sobre as eleições. Muitos já disseram que o PT e PSDB, troncos de raízes sociais diversas mas que cada vez mais politicamente se aproximam, sagraram-se vitoriosos. Em boa medida isso é verdadeiro, mas é preciso ir um pouco adiante. Ambos, […]

Concluído o primeiro e caminhando para o segundo turno, é possível fazer ainda algumas considerações sobre as eleições. Muitos já disseram que o PT e PSDB, troncos de raízes sociais diversas mas que cada vez mais politicamente se aproximam, sagraram-se vitoriosos. Em boa medida isso é verdadeiro, mas é preciso ir um pouco adiante.

Ambos, hoje, encontram-se no centro político, sendo que a oscilação, à esquerda ou direita é pouco significativa entre eles. Veja-se agora o PT de São Paulo, cabalando até o »nefasto» malufismo, agarrando-se a única »esperança» para tentar – o que cada dia escorrega pelo ralo – derrotar o Serra do PSDB. Se mais este ato não estampa, por certo sela o fim completo e cabal do PT como um partido que um dia quis ser de esquerda, quis ser portador da esperança dos trabalhadores dos campos e das cidades. Sonham, ambos, na melhor das hipóteses, em implantar a social-democracia nos trópicos, quando ela está sendo cabalmente destroçada no centro, onde de fato não mais existe enquanto tal. Trata-se, então, de uma picaresca idéia fora do tempo e longe do lugar.

E isso sem falar, para mostrar a funda ironia das coisas, que o PSDB e o PT atacam duramente o que mais se aproximou do welfare state no Brasil, o nosso getulismo. FHC o fez nos oito anos de seu reinado e Lula nos quase dois anos de seu desmonte, completando o que Collor iniciou, de modo aventureiro e bonapartista, como procurei demonstrar recentemente no livro A Desertificação neoliberal no Brasil (Ed. Autores Associados).

Mas a vitória do PT e do PSDB faz parecer que o Brasil caminha para um bipartidarismo, tese que, entretanto, parece não se sustentar. Na miríade de agremiações políticas existentes, ainda encontramos as velhas siglas. O velho PMDB nem mais partido-ônibus consegue ser. Tem dentre seus quadros, figuras como Sarney, Quércia, Jader Barbalho e assemelhados. Ainda pode vir a ser a casa do cambaleado ACM. Vai definhando a cada eleição, embora ainda marque alguma presença em alguns grotões que o PT não adentrou. O PFL, PP e pequenos partidos à direita, estão em frangalhos, mas sempre haverá espaço para as legendas desse quilate. O mesmo se passa com o PTB, resto da política brasileira e que por agora se reencontrou nos braços de Dirceu. Estamos falando do pântano mais lodoso de nossa política.

O PDT, sem sua maior liderança, parece caminhar cada vez mais sem rumo e dificilmente sobreviverá fora do espaço da política do favor, do clientelismo, do tipo daqueles praticados pelos garotinhos. Sem Brizola, resta-lhe a fusão com alguma agremiação símile. O PPS tem, dentre seus quadros, de tudo um pouco. Cada vez mais distante de sua matriz, o velho PCB, de quem parece ter herdado somente o oportunismo, cada vez mais adequado à troca e aos negócios da política. Já flertou com o PDT no passado recente. Seus espaços são cada vez mais assemelhados, flexionando a política, do centro-esquerda à direita, quando as circunstâncias eleitorais assim o desejam. Caminho assemelhado também tem sido o do PSB. Aqui e ali, alguns sobressaem na disputa eleitoral. Mas elegem na mesma proporção em que os eleitos mudam de sigla, quando novas contingências de uma política cada vez mais contingente se impõe.

No espectro mais à esquerda, o PC do B é parte da estrutura de sustentação do governo do PT. Ata-se, então, ao futuro desse governo, esquecendo-se que o governo do PT nunca foi – e nem se pretendeu – um governo de esquerda. Por vezes defende o governo Lula com mais força que os petistas do presente, cuja marca ideológica perdeu-se completamente no passado. O pequenino PCB parece não defender muito o governo do PT mas está lá dentro dele, na máquina, como se diz no jargão pecebista. O PSTU mantém-se pequenino, bravio, fazendo seu papel sem ter sonhos eleitorais. Não flexiona, mas também não se desfigura. Não pode aspirar a uma posição de destaque na esquerda, mas faz uma campanha de denúncia dos equívocos do governo. Tudo aqui indica que há espaço para algo novo, que o PT encampou e aglutinou nas décadas de 80 e 90, mas que hoje virou passado. Tema que fica para próximo artigo.

14/OUT/2004