Os trabalhadores da Universidade Federal de Santa Catarina – e de mais 42 universidades brasileiras – estão em greve desde o dia 23 de junho. A segunda greve no governo Lula. Em 2003, os trabalhadores pararam na luta contra a Reforma da Previdência, que retirou direitos e taxou os aposentados. O movimento, unificado com os […]
Os trabalhadores da Universidade Federal de Santa Catarina – e de mais 42 universidades brasileiras – estão em greve desde o dia 23 de junho. A segunda greve no governo Lula. Em 2003, os trabalhadores pararam na luta contra a Reforma da Previdência, que retirou direitos e taxou os aposentados. O movimento, unificado com os demais servidores públicos federais, foi derrotado. A reforma passou e já está tendo seus efeitos na vida dos trabalhadores aposentados. Este ano, os servidores fizeram de tudo para não parar, até porque entendem o tremendo transtorno que isso causa para os estudantes e toda a sociedade. Durante meses participaram de negociações com o governo, visando discutir o reajuste salarial e o plano de carreira. No final de maio assinaram um acordo em que o governo se comprometia de, até o dia 15 de junho, mandar um projeto de carreira para o Congresso Nacional. Mas, para surpresa dos trabalhadores, apesar de ter firmado o compromisso, o governo não cumpriu o prazo. Sem saída, a forma de pressão que ainda restava era a greve. E o movimento foi deflagrado em 23 de junho.
Já passam dos 50 dias de greve, e o governo está num insuportável jogo de empurra-empurra. Com uma pauta de reivindicação mínima – o plano de carreira – os trabalhadores são levados de reunião a reunião, ora no Ministério da Educação, ora no Ministério do Planejamento, sem que nada de concreto se efetive. A proposta apresentada pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra) foi construída coletivamente desde há 10 anos, mas o governo não quis discuti-la, alegando que vai trabalhar diretrizes gerais para todos os servidores públicos. Em função disso, a Fasubra, através de seu Grupo de Trabalho da Carreira, apresentou uma nova proposta, em que alguns dos princípios do plano original se mantêm. Isso foi feito no início da greve. Até agora, os trabalhadores esperam uma contra-proposta do governo, que alega não ter dinheiro para implementar o projeto. Na segunda proposta da Fasubra, seriam necessários pouco mais de um bilhão de reais para a efetivação da proposta, que abrangeria mais de 170 mil trabalhadores.
Os trabalhadores em greve consideram o choro do governo inaceitável, uma vez que diante dos gastos com a dívida externa (36 bilhões por mês), com a compra de avião para o presidente ou perdão de dívidas dos empresários, a quantia que o projeto exige é irrisória. Também é bom lembrar que nos últimos 10 anos, os servidores públicos ligados às universidades tiveram um reajuste de 3,5% no último ano do governo FHC e 1% no primeiro de Lula. Isso significa que as perdas acumuladas nestes anos todos já passam dos 130%.
Essa semana, mais de mil trabalhadores, representando 28 universidades, estão acampados na Esplanada dos Ministérios, fazendo pressão para que o governo apresente, definitivamente, uma contra-proposta. Para os servidores que estão em luta, essa «enrolação» do governo federal deixa muito claro qual é a concepção de Estado defendida pelo PT. Trata-se de uma adequação ao projeto de estado-mínimo em que os serviços públicos ficam cada vez mais minúsculos, em que a população fica cada vez mais órfã do estado, em que os pobres ficam completamente abandonados. No governo de Lula, o serviço público é aviltado, os trabalhadores são massacrados e a idéia de Parcerias Público/Privadas só consolida o desejo de entregar o estado para os empresários, considerados mais eficientes para gerir aquilo que deveria ser um direito de todos: a saúde e a educação.
A greve, que se arrasta, sem que o governo apresente nada de concreto, é uma tentativa de mostrar à sociedade que a universidade está abandonada, que os serviços públicos estão cada dia mais ineficientes e que isso não é culpa dos trabalhadores. Pelo contrário, são os trabalhadores os que mais têm lutado ao longo de todos esses anos em que a ameaça concreta de privatização vem se efetivando. E são os trabalhadores os que têm garantido a manutenção da educação superior pública e gratuita. Agora, com a proposta de reforma universitária, mais uma vez esse fantasma assoma. E, mais uma vez, são os técnicos-administrativos das Instituições Federais de Ensino os que estão em luta contra a idéia de cobrança de mensalidades e outros absurdos mais que estão incluídos na proposta governamental.