O Brasil parece estar sempre na contra-mão. Quando tudo indicava uma viravolta, com a eleição de um governo dito popular, o que se vê é o atraso andando a galope. A política econômica ortodoxa, subserviente, chega a ser pior do que a de FHC. O governo prefere garantir superávit primário para pagamento da dívida odiosa, […]
O Brasil parece estar sempre na contra-mão. Quando tudo indicava uma viravolta, com a eleição de um governo dito popular, o que se vê é o atraso andando a galope. A política econômica ortodoxa, subserviente, chega a ser pior do que a de FHC. O governo prefere garantir superávit primário para pagamento da dívida odiosa, do que promover o protagonismo de seu povo na condução dos destinos do país.
Além disso, passa a querer tutelar os trabalhadores, no melhor estilo «papai-sabe-tudo» . Para isso, propõe o que chama de reforma sindical, que vai definir como os trabalhadores devem se organizar. Tudo isso, é claro, decidido em conjunto com membros do governo e empresários. É, na verdade, a velha lógica da conciliação de classes. Como se fosse possível sentarem juntos o lobo e o cordeiro. Está bem, sentar juntos eles até podem, mas, é certo, em algum momento, os lobos não vão conseguir escapar de sua natureza e os seus hábitos alimentares assomarão. Desde o princípio dos tempos, os lobos comem os cordeiros. Assim é na vida do trabalho. Qualquer acordo entre trabalhador e patrão tem vantagem para patrão.
Pois, além de fazer parte do Fórum Nacional do Trabalho e apoiar a tal «reforma», a maior central sindical do país, a Central Única dos Trabalhadores – até então congregando a esquerda – que tem mais de três mil sindicatos, abandona de vez qualquer proposta de socialismo e entra na lógica do pacto social. Dar os anéis para não perder os dedos. Mas, que dedos???? Atualmente a CUT negocia com a Fiesc, maior entidade empresarial do país, na tentativa do chama de «segurar a inflação e estimular a criação de empregos». Por todo o lado , na mídia burguesa e entre o empresariado, é elogiada essa postura «madura» da central, que abandona seu radicalismo em nome da » paz no país». Coisa absolutamente idílica. O presidente do BNDS dá entrevista apoiando a idéia e diz que com o pacto poderia ser possível a queda dos juros. Também dão o mesmo apoio o ministro José Dirceu e o presidente Lula.
A proposta do pacto social é simples. O setor produtivo seria organizado para uma espécie de controle de preços durante três anos. Durante o período, os empresários fariam investimentos sem repassar os preços para o consumidor e o governo entraria com a redução da carga tributária. Os bancos também fariam sua parte baixando os juros dos empréstimos. Por fim, os trabalhadores abririam mão de pressionar por reajustes salariais acima da inflação. Parece perfeito!!!!
Depois, com a reforma sindical, o governo e os empresários teriam sob sua tutela os trabalhadores, a máquina sindical estaria destruída, a mobilização dos trabalhadores esfacelada e, como pá de cal, viria então a reforma trabalhista, retirando os últimos parcos direitos que ainda restam. Como tudo estaria sendo regido pelo «pacto», as futuras negociações se dariam em clima de alegria e amizade. Conciliadas as classes pelo bem do FMI e do Banco Mundial, a vida no Brasil seguiria como sempre foi.
É bom lembrar que a idéia de pacto social nasceu no pós-guerra quando os países destruídos pelo confronto buscavam caminhos para a recuperação econômica. E esse foi o grande momento da conciliação de classes em nome do ficou conhecido como o Estado de Bem-Estar Social. Foi a hora de o capital ceder alguns direitos aos trabalhadores e estes, acomodarem-se pacificamente aos interesses de um capitalismo «socialmente regulado». Foi a melhor forma de conter as agitações sociais, controlando preços e salários. De fato! Estudiosos garantem que o pós-guerra foi a idade de ouro do capitalismo. Do capitalismo!!!!
Agora, nesse jogo proposto pela CUT, o venerável ministro da Fazenda, Antônio Pallocci, é contra. O predador é mais real que o rei. Ele não quer ceder nada. Se, na Europa, a conciliação de classes já deu o que tinha que dar e os trabalhadores despertam da letargia de todas essas décadas, aqui no Brasil a proposta é ainda mais profunda. A volta à escravidão. Nem pacto, nem avanço nenhum. É o chicote, apenas. Pallocci deve pensar que o medo do desemprego já mantém suficientemente os trabalhadores sob controle. Nada mais deve ser dado. Na sua lógica neoliberal, ele está certo. Este não é tempo de dar poder aos trabalhadores. O mercado comando o mundo.
A CUT procura sair de boazinha, fazendo o pacto para sair como salvadora daqueles que ainda têm seus empregos, ainda que lá no Fórum do Trabalho atue em conjunto com governo e empresários para acabar com a estrutura sindical democrática e com os direitos que ainda restam aos trabalhadores. É como um circo dos horrores. Parece tudo um grande jogo de poder. Na verdade, é puro atraso, diz o prefessor de Economia, Nildo Ouriques. Mostra que as lideranças sindicais não têm a menor compreensão da realidade, do que realemente acontece no mundo. Fica na negociação de melhorar o que o que é ruim. Foi assim na Reforma da Previdência e será nas demais que estão por vir. Não vêem que o sistema não está disposto a negociar nada. Não percebe que os trabalhadores, os pobres, têm interesses próprios e que, mesmo perdendo na queda de braço sairiam fortalecidos como classe.
Assim, ou o sindicalismo acorda para a realidade ou vai continuar pagando o mico – ou seriam gorilas? – de propor o atraso. Na lógica de um capitalismo dependente que tem como base a superexploração do trabalho – e esta é a realidade brasileira – como bem desvelou Rui Marini, não há pacto possível. Não há!!!