No mesmo domingo em que, nos Estados Unidos, travava-se a batalha para conhecer quem iria comandar os destinos do planeta, outros espaços do globo também disputavam espaços de poder, como na Venezuela, Brasil, Uruguai etc… Num tempo em que a imprensa e as instituições de mando insistem em dizer que estamos na era do pensamento […]
No mesmo domingo em que, nos Estados Unidos, travava-se a batalha para conhecer quem iria comandar os destinos do planeta, outros espaços do globo também disputavam espaços de poder, como na Venezuela, Brasil, Uruguai etc… Num tempo em que a imprensa e as instituições de mando insistem em dizer que estamos na era do pensamento único, que o socialismo morreu, que não há mais espaço para a diferença, a realidade mostra que não é bem assim. É certo que as redes de TV e os jornais do mundo deram muito mais espaço para a disputa nos EUA, afinal, ali é a sede do poder mundial, onde através da mentira, do engano e da desinformação, presidente após presidente vai destruindo pedaços do mundo a seu bel prazer, em nome de uma coisa linda e amada por cada ser no planeta: a liberdade.
Na verdade, havia poucas ilusões quanto às eleições nos Estados Unidos. Vencesse quem vencesse, nada mudaria. O vampiro do norte seguiria querendo sugar as riquezas de todo o mundo para que, unicamente seu povo, pudesse desfrutar a vida boa e bonita. É certo que Bush detinha um maior volume de antipatia, afinal, é visto como um louco, um demente, que invade países no que, vergonhosamente, chama de «guerra preventiva». Ou seja, ele sonha de noite que algum país pode pôr qualquer trava aos seus desejos de ser o dono da vida e das riquezas do globo, então o invade, sob os mais esdrúxulos pretextos. A mentira e o engano são suas armas preferidas e, feito uma sereia no mar da Grécia, vai encantando os governantes de todo o mundo, que embarcam com ele nas suas aventuras de morte e destruição. Foi assim com o Afeganistão, com o Iraque e com o Haiti, este último com o próprio Lula sendo encantado.
Mas, enquanto a máquina da enganação moía os habitantes dos EUA, no Uruguai uma multidão de seres, cansados da miséria, do medo, da privatização de suas vidas, do desemprego, da fome, também foram às urnas, embora com outra intenção. Queriam dizer não a tudo isso que sempre significou o poder no pequeno país. Queriam dizer basta aos blancos, aos colorados e a todos os que, por dezenas de anos, sugaram suas vidas. Então, elegeram aquele que, para eles, poderá ser o sinal da mudança, o que vai virar o leme e, enfim, garantir vida feliz e plena para todo o povo. Tabaré Vásquez. O líder da Frente Amplia se elege montado numa imensidão de esperança. É quase um ver-de-novo do que aconteceu no Brasil, quando Lula ganhou as eleições amparado na idéia de mudança.
No Uruguai, 50% da população economicamente ativa está desempregada ou no sub emprego. A taxa de desnutrição infantil é de 38%. O povo quer que tudo isso mude. Por isso apostou naqueles que, desde 1971, vem fazendo a luta contra as políticas de miséria e opressão. A Frente Amplia, nascida nos anos 70, brotou da luta dos militantes cristãos, militares comunistas e ex-guerrilheiros. Durante esses 30 anos esteve à frente nas greves gerais, na luta contra a privatização das estatais do petróleo, enfim, nas batalhas do povo. Agora, uniu-se a uma parte da burguesia para vencer às eleições. É uma esperança e uma incógnita. Tanto pode dar uma guinada para a esquerda, fazendo com que a maioria da população assuma os destinos de seu país de forma protagônica, como pode ceder espaço à burguesia predadora.
Algumas declarações do presidente eleito e do futuro ministro da economia dão um sinal de alarme. Disse Vásquez que o Uruguai sempre foi um bom pagador, num claro aviso aos organismos internacionais de quem vai honrar com as dívidas do país. Já o provável futuro ministro, Danilo Astori, declarou que o controle da inflação, o superávit primário e o cumprimento das obrigações financeiras não são patrimônio só da direita. Isso soa tal e qual a política de Pallocci no Brasil, o super-ministro de Lula que o tem conduzido pelos seguros(?) caminhos do neoliberalismo. De qualquer forma, ainda é muito cedo para saber o rumo do Uruguai. Por enquanto, a esperança é de que seja uma voz dissonante no sul do mundo. Resta esperar.
Outro país que foi às urnas foi a Venezuela. Uma vitória piramidal de Hugo Chávez. Dos 22 estados da nação, os chavistas ganharam 20 e das 335 alcadias (prefeituras), levaram 270, inclusive a de Caracas. Passaram a ter o controle de 83% dos municípios do país. «O que estava morrendo, morreu e o que estava para nascer, nasceu», bradou Chávez, no seu inconfundível estilo. Segundo ele, nada mais pode barrar o aprofundamento da revolução bolivariana. «A Venezuela mudou para sempre». E o pequeno país do norte da América do Sul passa a ser uma referência do pensamento anti- hegemônico, em contraponto direto com a vitória de Bush. Assim, se há um poder que, pelas armas e pela violência, vai tentando conquistar o mundo, há também outros poderes que, de formas outras, vão minando os caminhos do império.
O pensamento único não é uma realidade. O poder infinito de Bush não é verdadeiro. A terra vibra, os povos lutam, as gentes caminham em direção do seu meio-dia. No Brasil isso também se viu, com a derrota eleitoral do PT. Um partido que elegeu um presidente ancorado no desejo de mudança, viu que havia sido enganado e reagiu. As pessoas não são burras. Elas sabem o que é bom para elas, andam na direção de seus interesses de vida feliz e prazerosa. O caminho é longo e difícil, mas está aí, na frente de cada um. Se, como diz Chávez, a Venezuela mudou para sempre, seguimos nós, aqui, no sul do mundo, também crendo que o globo todo pode mudar.